Existem muitos
cursos para auxiliares e técnicos veterinários e esses cursos estão na
categoria de cursos livres, assim como cursos de moda ou fotografia.
Muitos
se interessam pelo curso para conhecer o dia-a-dia e ver se prosseguem a carreira com uma
graduação em Medicina Veterinária, outros querem cuidar melhor dos próprios
animais em casa e existem àqueles que estão à procura de qualificação profissional e em busca
por um novo emprego.
Sou de uma
cidade pequena no interior do Estado de São Paulo e neste ano de 2018 tive o prazer
de aulas para o curso de auxiliar veterinário para adolescentes.
Muitos
desistiram pelo caminho e houve até um pai me ligando dizendo que não ia mais
pagar o curso porque não enxergava retorno financeiro.
Então, qual a
realidade? Tem ou não tem emprego para auxiliares e técnicos veterinários?
A realidade é
que temos que modificar todo um comportamento social que é enraizado inclusive
nessas pessoas que procuram fazer esses cursos. Existe o pensamento de que Médicos Veterinários cobram
caro... e meus próprios alunos querem consulta grátis, tirar
dúvidas... ou vão pro balcão da loja agropecuária e compram qualquer coisa.
Alguns até aprendem na aula o risco de intoxicação medicamentosa e mesmo assim eu tenho que
ouvir “sempre fizeram assim em casa e nunca nenhum morreu”. Que sorte!
Auxiliares e
técnicos veterinários só conseguem emprego se toda a engrenagem funcionar em
conjunto: se não há demanda, não há emprego. Explico: se um Médico Veterinário
atende poucos clientes, ele não tem necessidade de contratar uma mão de obra um
pouco mais especializada. A moça do banho e tosa se vira, a secretária ajuda
aqui e ali... e os auxiliares/técnicos esperando a vez para serem contratados...
Agora pense: se o fluxo de
clientes é grande, não dá tempo pra moça do banho e tosa deixar o serviço dela
de lado, a secretária tem que receber as pessoas, atender o telefone e
organizar toda a burocracia, o Médico Veterinário começa sentir que não está
dando conta sozinho e que vai acabar ficando maluco... e é nessa hora que o
auxiliar/técnico veterinário tem sua grande chance de ser contratado!
Mas a realidade é que são poucos os
auxiliares/técnicos querem pagar serviço veterinário. Ligam para o professor, vão
comprar medicamento no balcão de loja... vão atrás de algum amigo veterinário
pra ver se descola uma consulta na faixa... não incentivam amigos, parentes e
vizinhos... E dessa maneira, como o mercado vai girar?
Ter um animal
de estimação custa caro e ao longo da vida você pode investir o valor de um
carro em um único cachorro. E nem precisa ser de raça e comprado num petshop. Ração de
qualidade, check up e atendimento veterinário custam caro. Existem impostos
altos porque animais foram considerados supérfluos pelo Governo Federal.
Além disso, sociedade
deixa uma carga muito alta para o Médico Veterinário carregar. É ele quem tem
que fazer tudo por amor aos animais. Hoje, muitas espécies (principalmente cães
e gatos) são tratadas como filhos, mas Médico Veterinário de longe é tratado
como um pediatra humano. Existe muita falta de respeito e desvalorização
profissional. Estudamos tanto quanto ou até mesmo mais do que um médico humano.
Talvez sejam erros dos próprios colegas veterinários que acabe desvalorizando a profissão, mas não vou entrar neste mérito neste texto. Mas precisamos mudar essa
cultura já!
A doutora
Sophia Yin foi uma Médica Veterinária norte americana excepcional. Criou várias
técnicas para que todo o atendimento fosse o mais tranquilo possível, com menos
estresse para os animais. Mas ninguém se preocupou com o estresse dela, o que
ela estava passando. Talvez a compaixão
dela, refletisse a compaixão com que gostaria de ser tratada. Só uma teoria.
Nunca saberemos a resposta porque ela decidiu tirar a própria vida.
Aos poucos a
minha vida também vai mudando: de clínica geral para anestesista de cães e gatos. E com
o que eu me deparo? Com um monitor multiparamétrico: um aparelho me dá vários
parâmetros em tempo real para que a cirurgia seja a mais segura possível,
para que desvios sejam corrigidos antes que sejam tarde demais. Esse aparelho mais básico, mas completinho (existem melhores e mais caros) custa R$ 6500,00 e o
banco me negou financiamento por uma série de razões (sou autônoma iniciante com baixo fluxo de clientes).
E como é que eu fico nessa história de que eu
tenho que salvar animais por amor? O banco não quer saber. O carnê da
Prefeitura está ali todo mês e não aceitam abraços como forma de pagamento. Aluguel, conta de água,
luz, telefone, internet, boletos e mais boletos... nenhum credor quer saber se eu sou
solidária com os animais ou não.
Uma amiga que
vai começar mais um ano de faculdade e precisou pagar R$ 2000,00 de rematrícula.
Não é mensalidade de dezembro. Não é mensalidade de janeiro. É dinheiro pra ela
continuar estudando. Fora pagar a van, lanche, xerox, mensalidades (sem considerar as despesas em casa)... E você
ainda acredita que a gente tem que fazer TUDO por amor e caridade?
Caridade eu
faço. Muitos dos meus colegas fazem. Muitos de nós tem tanta compaixão pelos animais que muitas
vezes acaba sendo prejudicado de várias maneiras, principalmente com calote. Caridade deve ser anônima. O
Conselho de Medicina Veterinária não se opõe. Só não pode usar caridade como autopromoção e para
prejudicar outros colegas.
Uma outra amiga
minha vai começar a dar coaching para empresários e pediu opinião de vários
empresários sobre o que mais desanima. Minha resposta: falta de empatia.
Eu vejo vários
comentários, posts incentivando o respeito ao trabalho, à valorização
profissional... isso com manicures, mecânicos... todos pensam no próprio umbigo
“eu quero ser respeitado”, “eu cobro tanto porque eu valorizo meu trabalho”.
Perfeito! Tem que se valorizar, sim! O que não pode é desrespeitar os outros, os desvalorizando.
Enfim. A
máquina do capitalismo gira assim: empregos são gerados conforme a demanda. Se
não há demanda, não há empregos.
Eu falei isso
para os meus alunos e falo para você também que é recém formado em algum curso
de auxiliar ou técnico veterinário, ou mesmo para você que fez o curso há um tempo e se sente
frustrado em não conseguir colocação na área. Comece por você a mudança! Pare
de buscar soluções mastigadas e baratas. Você tem que ser o exemplo: pague
consultas médicas para seu bichinho de estimação, incentive amigos, parentes e
vizinhos! Você já aprendeu (ou deveria ter aprendido) a importância do Médico
Veterinário e agora é só movimentar o mercado para que o mercado te contrate em
breve!