segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Aos auxiliares veterinários

            Faz um bom tempo que não posto nada... mas vez ou outra vem o chamado "vet, explica de novo!" e aqui estou!


Existem muitos cursos para auxiliares e técnicos veterinários e esses cursos estão na categoria de cursos livres, assim como cursos de moda ou fotografia. 
Muitos se interessam pelo curso para conhecer o dia-a-dia e ver se prosseguem a carreira com uma graduação em Medicina Veterinária, outros querem cuidar melhor dos próprios animais em casa e existem àqueles que estão à procura de qualificação profissional e em busca por um novo emprego.
Sou de uma cidade pequena no interior do Estado de São Paulo e neste ano de 2018 tive o prazer de aulas para o curso de auxiliar veterinário para adolescentes. 
Muitos desistiram pelo caminho e houve até um pai me ligando dizendo que não ia mais pagar o curso porque não enxergava retorno financeiro.
Então, qual a realidade? Tem ou não tem emprego para auxiliares e técnicos veterinários?

A realidade é que temos que modificar todo um comportamento social que é enraizado inclusive nessas pessoas que procuram fazer esses cursos. Existe o pensamento de que Médicos Veterinários cobram caro... e meus próprios alunos querem consulta grátis, tirar dúvidas... ou vão pro balcão da loja agropecuária e compram qualquer coisa. Alguns até aprendem na aula o risco de intoxicação medicamentosa e mesmo assim eu tenho que ouvir “sempre fizeram assim em casa e nunca nenhum morreu”. Que sorte!



Auxiliares e técnicos veterinários só conseguem emprego se toda a engrenagem funcionar em conjunto: se não há demanda, não há emprego. Explico: se um Médico Veterinário atende poucos clientes, ele não tem necessidade de contratar uma mão de obra um pouco mais especializada. A moça do banho e tosa se vira, a secretária ajuda aqui e ali... e os auxiliares/técnicos esperando a vez para serem contratados...
Agora pense: se o fluxo de clientes é grande, não dá tempo pra moça do banho e tosa deixar o serviço dela de lado, a secretária tem que receber as pessoas, atender o telefone e organizar toda a burocracia, o Médico Veterinário começa sentir que não está dando conta sozinho e que vai acabar ficando maluco... e é nessa hora que o auxiliar/técnico veterinário tem sua grande chance de ser contratado!
Mas a realidade é que são poucos os auxiliares/técnicos querem pagar serviço veterinário. Ligam para o professor, vão comprar medicamento no balcão de loja... vão atrás de algum amigo veterinário pra ver se descola uma consulta na faixa... não incentivam amigos, parentes e vizinhos... E dessa maneira, como o mercado vai girar?


Ter um animal de estimação custa caro e ao longo da vida você pode investir o valor de um carro em um único cachorro. E nem precisa ser de raça e comprado num petshop. Ração de qualidade, check up e atendimento veterinário custam caro. Existem impostos altos porque animais foram considerados supérfluos pelo Governo Federal.
Além disso, sociedade deixa uma carga muito alta para o Médico Veterinário carregar. É ele quem tem que fazer tudo por amor aos animais. Hoje, muitas espécies (principalmente cães e gatos) são tratadas como filhos, mas Médico Veterinário de longe é tratado como um pediatra humano. Existe muita falta de respeito e desvalorização profissional. Estudamos tanto quanto ou até mesmo mais do que um médico humano. Talvez sejam erros dos próprios colegas veterinários que acabe desvalorizando a profissão, mas não vou entrar neste mérito neste texto. Mas precisamos mudar essa cultura já!


A doutora Sophia Yin foi uma Médica Veterinária norte americana excepcional. Criou várias técnicas para que todo o atendimento fosse o mais tranquilo possível, com menos estresse para os animais. Mas ninguém se preocupou com o estresse dela, o que ela estava passando.  Talvez a compaixão dela, refletisse a compaixão com que gostaria de ser tratada. Só uma teoria. Nunca saberemos a resposta porque ela decidiu tirar a própria vida.



Aos poucos a minha vida também vai mudando: de clínica geral para anestesista de cães e gatos. E com o que eu me deparo? Com um monitor multiparamétrico: um aparelho me dá vários parâmetros em tempo real para que a cirurgia seja a mais segura possível, para que desvios sejam corrigidos antes que sejam tarde demais. Esse aparelho mais básico, mas completinho (existem melhores e mais caros) custa R$ 6500,00 e o banco me negou financiamento por uma série de razões  (sou autônoma iniciante com baixo fluxo de clientes). 
E como é que eu fico nessa história de que eu tenho que salvar animais por amor? O banco não quer saber. O carnê da Prefeitura está ali todo mês e não aceitam abraços como forma de pagamento. Aluguel, conta de água, luz, telefone, internet, boletos e mais boletos... nenhum credor quer saber se eu sou solidária com os animais ou não.

Uma amiga que vai começar mais um ano de faculdade e precisou pagar R$ 2000,00 de rematrícula. Não é mensalidade de dezembro. Não é mensalidade de janeiro. É dinheiro pra ela continuar estudando. Fora pagar a van, lanche, xerox, mensalidades (sem considerar as despesas em casa)... E você ainda acredita que a gente tem que fazer TUDO por amor e caridade?
Caridade eu faço. Muitos dos meus colegas fazem. Muitos de nós tem tanta compaixão pelos animais que muitas vezes acaba sendo prejudicado de várias maneiras, principalmente com calote. Caridade deve ser anônima. O Conselho de Medicina Veterinária não se opõe. Só não pode usar caridade como autopromoção e para prejudicar outros colegas.

Uma outra amiga minha vai começar a dar coaching para empresários e pediu opinião de vários empresários sobre o que mais desanima. Minha resposta: falta de empatia.
Eu vejo vários comentários, posts incentivando o respeito ao trabalho, à valorização profissional... isso com manicures, mecânicos... todos pensam no próprio umbigo “eu quero ser respeitado”, “eu cobro tanto porque eu valorizo meu trabalho”. Perfeito! Tem que se valorizar, sim! O que não pode é desrespeitar os outros, os desvalorizando.



Enfim. A máquina do capitalismo gira assim: empregos são gerados conforme a demanda. Se não há demanda, não há empregos.

Eu falei isso para os meus alunos e falo para você também que é recém formado em algum curso de auxiliar ou técnico veterinário, ou mesmo para você que fez o curso há um tempo e se sente frustrado em não conseguir colocação na área. Comece por você a mudança! Pare de buscar soluções mastigadas e baratas. Você tem que ser o exemplo: pague consultas médicas para seu bichinho de estimação, incentive amigos, parentes e vizinhos! Você já aprendeu (ou deveria ter aprendido) a importância do Médico Veterinário e agora é só movimentar o mercado para que o mercado te contrate em breve!




quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Bola de Cristal

Infelizmente... a bola de cristal não faz parte da lista de itens que o Médico Veterinário possui. Até seria de grande utilidade, principalmente porque os pacientes não falam.

Muita gente acha que o Médico Veterinário tem má vontade em orientar e só o faz mediante pagamento. Muitas vezes são julgados como mercenários e questionam o seu amor aos animais.

Pagamos contas como todos - aluguel, água, luz, telefone e salários de funcionários. Muitos julgam pelo uniforme impecável, pela tecnologia de ponta, pelo sapato de couro... Mas poucos se lembram que tudo tem um custo, ninguém faz nada de graça... as despesas diárias, custos com os honorários, os filhos, os próprios animais, a própria saúde.

Muita gente quer informação gratuita.

- É tão simples! O que custa responder!

O que o Médico Veterinário tem pra vender é o conhecimento. É aquela velha história: apertar o parafuso é fácil, mas saber qual parafuso apertar é onde está o valor profissional.

Outro dia me enviaram uma foto de uma ferida num cachorro. Nem sequer sei o nome da pessoa que enviou. Ouvir que existe a necessidade de uma consulta pareceu uma ofensa.


Será que foi má vontade minha? Será que eu quero arrancar cada centavo que a pessoa tinha na carteira? Minha sede por dinheiro vale mais do que o bem estar do seu amado cachorrinho?

- Ahhhh... mas pense bem! É só uma simples ferida! O que custa receitar algo que tem ali no balcão da loja? Qualquer coisa serve!

Sinto muito. Eu não posso fazer download do seu cachorro e materializá-lo na minha frente em 3D.

O medicamento errado pode colocar a vida do seu animal em risco. Ir até um balcão de um petshop ou casa agropecuária e pedir qualquer coisa porque você não tem condições de pagar um Médico Veterinário... pode sair bem caro. Além do gasto desnecessário com medicamentos que podem não fazer efeito, o balconista não é especialista nenhum. Muitas vezes ele tem um pouco de conhecimento... mas não são muitas as vezes que ele acerta.

Você sabia que tem medicamento pra cachorro que gato não pode tomar?
Você sabia que tem medicamento humano que cachorro não pode tomar?
Você sabia que algumas raças de cães não podem tomar ivermectina? E se você tem um cão dessa raça o que fazer, então?
Você sabia que o famoso Baytril que todo mundo empurra pra qualquer caso de diarreia não pode ser utilizados em algumas situações e pode ser até prejudicial?

Você não tem que saber nada disso. Quem tem que saber é o Médico Veterinário. O que você tem que saber é que só ele pode indicar a medicação correta pro seu bichinho.

- Mas só uma foto não basta? Mando duas!

Pode mandar um milhão de fotos que elas não bastariam. Um ferida é apenas um ponto. De qual doença se tratar... é a soma de vários pontos que serão avaliados e perguntados ao vivo. Eu preciso do seu animal aqui para a temperatura ser aferida, pro coração ser auscultado, pro pulmão ser percutido e por aí vai... e eu preciso de você junto para me responder o que foi feito até agora, fazer perguntas sobre coisas que você talvez nem tenha pensado que podiam ter relação ao ocorrido... e algumas vezes será necessário pedir algum exame para auxiliar no diagnóstico.

Tenho três exemplos aqui. O que os três tinham em comum? Perda de pelos.
Só de olhar para as fotos... vocês são capazes de me dizer o que cada um tem? Ou perda de pelo é tudo a mesma coisa?

Toby                               Penélope                           Aurora

Além da perda de pelos, cada um apresentava todo um conjunto de sinais bem distintos uns dos outros! Eis a chave pra descobrir o que tem e como tratar!

Cada um usou um shampoo diferente.

- Não é só frescura só pra arrancar dinheiro?

Olha... o primeiro precisava de um shampoo que mata fungo, o outro precisava de um shampoo que mata ácaros, o terceiro não tem shampoo que ajude. Cada um recebeu medicação e tratamento específico pro seu caso.

O Toby tinha malasseziose. A Penélope tem sarna negra. A Aurora tem hipotireoidismo.
E não dá pra adivinhar o que cada um tem olhando uma foto e tendo uma única informação. Entendeu?

Antes de sair adotando todos os bichinhos lindos que aparecem na sua frente, faça o seguinte: pegue a calculadora, confira os possíveis gastos e veja se realmente pode ajuda-los a ter um vida melhor, longe do abandono e dos maus tratos. Serão pelo menos 15 anos ao seu lado e ele conta com você para ajuda-lo no que der e vier, na saúde e na doença.







Quanto vale uma vida?

Nunca imaginei ter um Hamster. Tenho um cachorro e cuido de cinco gatos. E meu foco sempre foi pequenos animais (exatamente os cães e os gatos).

Mas o destino me levou trabalhar dentro de um petshop e lá conheci algumas novidades. Uma delas foi o chamado Hamster Chinês... Que pelo que entendi, existe uma confusão com nomes e na verdade é um Russinho. Enfim... não é minha área. É um hamster e pronto.

Hamtaro nos tubos coloridos

Acabei adotando um deles. Ele estava apanhando dos demais, tinha fugido e sumiu por 2 semanas. Foi encontrado no meio dos sacos de ração de 20 Kg (não sei como não foi esmagado!). De volta à gaiola, os demais o rejeitaram e as brigas eram constantes. Tinha acabado de chegar na loja uma gaiolinha linda, com casinha, rampa e afins. Não sei se comprei a gaiola ou se salvei o hamster... talvez os dois.


Muita pesquisa de internet. Simples de cuidar. Pesquisas sobre o que ele pode comer. Ele tem ração, sementes e uma enorme variedade de frutas, legumes e verduras. Come pouco, então não é difícil tentar mimá-lo oferecendo variedade em alimentos.

Ele cresceu e ganhou uma gaiola maior. Ele fugiu algumas vezes e foi encontrado pelos meus gatos (resgatei ele ileso).

Até que a bochecha dele começou inchar como um balão. Levei na Veterinária de Silvestres, a Dra Telma do Inova Sorocaba. Sim!! A Medicina Veterinária é vasta... por mais que eu me esforce lendo livros sobre hasmters... teoria é muito diferente da prática! E vai tentar calcular medicamento pra um bichinho tao pequeno... são muitos zeros depois da virgula! Medicação receitada e manipulada, o inchaço diminuiu 95%.



Mas acabou voltando... a indicação era examinar através de uma radiografia... e como toda proprietária que se preze... enrolei. Voltei a dar a mesma medicação receitada, mesmo sabendo das consequências... Diminuiu 50%.



Começou a ficar muito mais inchado, avermelhado, ele começou a ter dificuldade pra comer (já tava meio de lado)... perdi o sono e tomei a coragem. Radiografado pelo Dr. Michell Marum, foi pra cirurgia no mesmo dia, pela Dra Carina Antunes e anestesia da Dra. Marília Lemes. Todos do CEVEP em Piedade. Ele passa bem! Já chegou em casa, comeu um pouquinho de queijo com medicação,explorou toda a gaiola, se limpou, se alimentou e dormiu.

 
MV Carina e a MV Marília no CEVEP

Muitos se perguntam: pra quê tanto trabalho??? Esse tal de hamster Chinês custa em média 20 reais e tem uma expectativa média de 2 anos. O meu já tá na metade da vida. A porcaria da gaiola custa mais que o bicho!

Sempre tenho que me deparar com a seguinte pergunta: você fez Veterinária porque gosta de bichos? Passa muito pela cabeça dar uma resposta malcriada, mas o jeito é respirar fundo e tentar buscar a paz interior.

Não... não sou médica frustrada. Nunca prestei pra Medicina (humana), mesmo sabendo que minha vida seria muito mais fácil. Eu teria a chance de estudar em escola particular já com 18 anos e provavelmente teria tido muito mais ajuda pra abrir um consultório (ou talvez não custasse tanto quanto um consultório veterinário...).

Ser veterinário não é nada fácil. Veterinário tem que enfrentar as pessoas pedindo atendimento por amor. Esquecendo totalmente que precisamos pagar contas - como todo mundo. A gente tem dó, tem dor no coração, pode fazer filantropia... mas não podemos viver só de amor. No Brasil, os custos são altos, a carga de impostos sobre produtos veterinários é muito alta, porque o governo acha que é supérfluo.

Se você não tem condições financeiras, não tenha um animal (simples assim). Cedo ou tarde vai te dar despesas. E na veterinária é tudo por peso. Os gastos com um Pinscher é diferente do gasto de um Dogue Alemão. Veterinário não te obrigou adotar 40 animais. Você é quem tem que saber na ponta do lápis quanto cada um vai te custar ao longo de 15 anos, não é responsabilidade do Médico Veterinário ter compaixão e cuidar de todos a custo zero pra você (sim, alguém sempre paga a conta, algumas vezes o Veterinário tira do próprio bolso). A gente sofre junto, claro! Mas não dá pra fazer milagre todo dia.

E aqui eu chego na história do meu hamster: ele custou 20 reais e vive 2 anos. Eu resgatei ele de ser morto pelos coleguinhas. Eu resgatei ele de virar comida de serpente. Então, o que eu posso fazer é oferecer 2 anos do que estiver ao meu alcance. Contei com ajuda dos meus colegas, sim. Mas eu estava disposta a gastar cada centavo, nem que pagasse a perder de vista. A consulta com especialista em silvestres, o custo de cada projeção radiográfica e custos de cirurgia, anestesia e medicação.

Por que pra mim cada vida importa. Foi um compromisso que assumi quando eu resolvi adotá-lo. Se fosse pra largar a deus dará numa gaiola... que deixasse ele ser vendido como almoço pra alguma serpente, isso se não matassem ele antes de tanto apanhar.


Aos meus colegas: não menosprezem paciente pela expectativa de vida.

Aos tutores: usem o coração, mas tenham em mente os custos de manter um animal sob sua guarda.

Nunca em hipótese alguma pensem em jogar fora um hamster, um coelho, um porquinho da índia... no mato!! Não é um animal da fauna brasileira!! Os prejuízos ambientais podem ser catastróficos!!

E por fim, não dá pra abraçar o mundo e saber de tudo: consulte um especialista em cada área.





quinta-feira, 1 de junho de 2017

Pare e pense

Vamos falar de algo muito sério.
Li um texto na internet a respeito de mais um suicídio de uma Médica Veterinária dos Estados Unidos. Apesar da distância, a realidade dos Médicos Veterinários daqui não é muito diferente.

E aqui a minha tradução:

“Taxa de suicídio entre veterinários é o dobro de dentistas e médicos, e é seis vezes maior do que na população geral.

Há muitos fatores que influenciam a tensão na saúde mental e o suicídio entre veterinários, incluindo traços da personalidade, cansaço emocional, dívidas estudantis, frequência de morte de seus pacientes e a atitude perante a eutanásia. A autora de “Every Time” expressa como os veterinários se sentem abusados. Que este texto atinja o público fazendo com que sintam mais compaixão e cuidado com os profissionais veterinários.

“Every Time” (Toda Vez)

Toda vez que você diz que veterinários são gananciosos, ou é caro demais ou fazem isso só pelo dinheiro.

Toda vez que você rejeita todos os diagnósticos e mesmo assim você ordena querer saber “o que há de errado com meu pet”.

Toda vez que você se encontra em um evento social ou em algum lugar totalmente inapropriado e você fica sabendo que há um veterinário, você pede um conselho gratuito para seu pet.

Toda vez que você publica que o atendimento foi uma bosta, mesmo quando tudo foi feito com o melhor cuidado e mesmo assim, o seu pet morreu.

Toda vez que SUA falta de cuidado resultou na morte prematura do seu pet e ainda assim, você culpa o veterinário.

Toda vez que ela chega cedo e vai embora tarde, trabalha 80 horas por semana porque o seu pet esteve doente por dias e você só veio procurar ajuda emergencial às 17h da sexta-feira e você ordenou que o atendessem – gritando que os veterinários sem coração não iam cuidar do seu bebe.

Toda vez que alguém pergunta “por que você não se tornou um médico de verdade?”

Toda vez que alguém compara os subsídios existentes na medicina humana e reclama dos custos de possuir animais de estimação (aliás, isso é totalmente voluntário).

Toda vez que alguém deixa de pagar a conta e imagina que não precisa pagar porque ter animais de estimação é seu direito.

Toda vez que alguém entra numa clínica e ameaça processar se acontecer um único erro com seu bebe.

Toda vez que um recém formado veterinária olha sua enorme dívida com estudos e escuta de clientes dirigindo Mercedes ou BMWs a reclamação do custo de uma castração utilizando um bom cuidado anestésico e um bom controle da dor.

Toda vez... você é parte do problema.

O problema é o suicídio de veterinários. A maioria de nós foi pra faculdade de veterinária porque gostamos. Temos um chamado para o cuidado... mas tem um alto custo para a compaixão”.

Pense antes de falar.”


Autora: Tamara Vetro Widenhouse

terça-feira, 19 de abril de 2016

Teníase e Cisticercose

Recentemente foi noticiado a morte de um ídolo do Sport Club Recife por neurocisticercose. Uma fatalidade difícil de acreditar que aconteça em pleno ano de 2016.

Aqui trata-se de uma zooantroponose, que significa que é uma doença humana que pode ser transmitida para os animais. O grande vilão da história não é o suíno, e sim, nós humanos! 

A falta de saneamento básico é a chave para esta questão. Para saber mais sobre o assunto, clique aqui

Tem teníase aquele sujeito que tem o verme adulto no intestino. Quem tem cisticercose tem uma infecção provocada pela larva da tênia.


São duas espécies, uma está relacionada ao porco e a outra, ao boi. A Taenia solium vive cerca de 3 anos, mas pode chegar a 25 anos e a Taenia saginata vive cerca de dez anos, podendo chegar a até 30 anos.  Os ovos podem sobreviver em torno de 4 a 6 meses no ambiente.

Como eu posso adquirir teníase? Comendo de carne bovina ou suína crua ou malcozida contendo cisticercos (canjiquinhas).
Como eu posso adquirir a cisticercose? Com ingestão acidental de ovos viáveis de T. solium na carne suína (A T. saginata não se desenvolve nesta situação). Quem tem T. solium adulta no intestino elimina as proglotes (uma espécie de saco cheio de ovos) e ovos de sua própria tênia e leva-os à boca pelas mãos contaminadas (olha a importância de lavar bem as mãos após usar o banheiro!); pode ocorrer um refluxo, possibilitando presença de proglotes ou ovos de T. solium no estômago que voltam ao intestino delgado. Também dá para adquirir na ingestão de alimentos (verduras, por exemplo) ou água contaminados com os ovos da T. solium de outra pessoa com teníase. A grande complicação é a neurocisticercose, ou seja, vai parar no cérebro.

Muita gente não sabe, mas Médico Veterinário não cuida só de cachorro e gato dentro de uma clínica. Muitos estão em fazendas, na indústria, em departamentos governamentais e dentro dos grandes mercados cuidando de toda a cadeia dos produtos de origem animal.

Carne rastreada significa que em uma situação complicada, as autoridades possam saber quando, onde e como o animal foi criado, que medicações foram utilizadas, que ração comeu, quem transportou, quem abateu, qual o destino da carne até chegar na sua mesa. Porém isso encarece o produto.

O ideal é você sempre exigir o selo de inspeção municipal, estadual ou federal. Combater o abate clandestino contribui para a sua boa saúde e também pode influenciar a realização de abate humanitário (abatedouros clandestinos costumam não se importar com o sofrimento prolongado infligido aos animais).



Se há dúvidas de onde vieram os alimentos, asse bem a carne, lave bem as verduras, não misture facas e utensílios de cozinha. Adquira o hábito de lavar sempre as mãos. 

Se parar para pensar é um assunto bastante nojento: cocô de gente doente deixando outras pessoas e animais doentes! Vamos exigir saneamento básico, educação sanitária para todos e mandar essas doenças para o passado de uma vez!

segunda-feira, 21 de março de 2016

Vacinação

Como funciona? O Sistema Imune equivale ao exército que defende o organismo e a vacina serve como treino de reconhecimento do inimigo (como se fosse apresentar uma foto, a cor do uniforme, etc.). Quando o inimigo chegar de verdade, o organismo está pronto para se defender e não deixar adoecer, ou que a doença seja mais branda do que seria sem vacinação. E fazer esse “treinamento” incompleto ou somente uma vez pode não ser suficiente para enfrentar a doença.

As campanhas de vacinação das prefeituras são voltadas para a RAIVA. Pessoas podem adoecer entrando em contato com animais que tem esse vírus e se não tratada imediatamente, é fatal. E acredite, é uma das formas mais terríveis de se morrer.

O alerta é que as outras vacinas são de responsabilidade de quem adota o animal, o governo não distribui essas vacinas. Para cães existem a V8, V10 (e variantes), contra giárdia e contra a tosse dos canis. Para os gatos, existe a quadrupla felina.

Meu objetivo não é explicar com detalhes cada doença e nem que você saia fazendo diagnósticos, pois sintomas foram descritos muito brevemente e só com um exame mais criterioso pode-se afirmar a presença ou não de determinada doença. Quero chamar a atenção do porque vacinar: são doenças potencialmente fatais, muito contagiosas entre os animais e/ou podem ser passadas para as pessoas.

A V8 representa proteção contra 8 doenças: cinomose, adenovírus tipo 2, parainfluenza, parvovírus, coronavírus, hepatite e dois tipos de leptospira (a V10, são quatro tipos de leptospira).

Cinomose: o que chama atenção é a secreção nos olhos, tremores e falta de coordenação motora. O tratamento é difícil e depende do estágio da doença que pode levar à morte.
Parvovirose: aqui o animal fica quieto, não quer comer nem beber água e tem vômito e diarreia com sangue. Desidratação e infecção generalizada podem levar o animal à morte. O tratamento deve ser realizado o quanto antes. O ambiente fica contaminado por muito tempo e pode ameaçar outros cães que cheguem ao local.
Coronavirose: muito parecida com a parvovirose, mais branda, porém pode ser fatal em cães muito debilitados.
Adenovírus tipo 2 e Parainfluenza: doenças respiratórias agudas e muito contagiosas entre os cães. O sintoma mais comum é tosse seca que lembra um engasgo (conhecida como Tosse dos Canis).
Hepatite infecciosa: o cachorro para de comer, tem dor e inchaço na barriga, fica amarelado, tem vômito e diarreia e também pode ser fatal.
Leptospirose: se trata de uma zoonose (doença que os animais passam para nós), os cães podem adquirir a doença entrando em contato direto com ratos ou ficando em locais contaminados. Pode ser fatal.
Giardíase: também se trata de uma zoonose. Quando em contato com água e alimentos contaminados, o animal passa a ter diarreia, podendo desidratar e morrer.
Vacina da tosse dos canis é opcional.

Quádrupla felina:
Rinitraqueíte viral felina: espirros, secreção nos olhos, no nariz... dificuldade para respirar, emagrecimento e pode matar.
Calicivirose: doença respiratória que também faz machucados na boca.
Clamidiose: conjuntivite persistente bastante contagiosa.
Panleucopenia: falta de apetite, vômito, diarreia, desidratação e pode ser fatal.

Procure o Médico Veterinário de sua confiança para saber o calendário de vacinação. Cuidado ao escolher vacinas sem procedência, não se sabe como ou onde foram produzidas e se foram adequadamente armazenadas. O custo do tratamento e a possibilidade de perder seu bichinho, não valem essa economia. 

(Mike Falkner/Creative Commons)

Coelho da Páscoa

By Superbass - Own work, CC BY-SA 4.0

Segundo o IBAMA, coelhos são considerados animais domésticos. Mas antes de sair comprando um coelho para as crianças por ser Páscoa, lembre-se que coelhos requerem cuidados como qualquer outro animal que queremos que faça parte da nossa família.

Indicação de leitura: http://www.mundodosanimais.pt/mamiferos/coelho/ o site é de Portugal e algumas diferenças podem ser discutidas com o Médico Veterinário de sua confiança.

Antes de comprar procure conhecer bem o criador, não incentive contrabando e maus tratos. Informe-se sobre como cuidar de um coelho, lembrando que podem viver de 8 a 10 anos o que significa um compromisso que vai além da Páscoa deste ano.

Lembre-se também que coelhos não são brinquedos, não podem ser erguidos pelas orelhas e não são descartáveis!

Em caso de dúvida, prefira os coelhos de pelúcia ;-)

Sansão - Maurício de Sousa